A exposição
Orixás - A Exposição
A exposição Orixás, em cartaz no Museu da Fotografia Fortaleza, reúne 65 obras do fotógrafo Pierre Verger que revelam cenas da cultura religiosa iorubana que atravessou o Atlântico e chegou ao Brasil com a diáspora africana, através do tráfico de negros escravizados, a partir do Século XVI.
Com curadoria de Alex Baradel, a exposição traz, na sua maioria, fotografias que integram o livro Orixás: Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo, publicado em 1983 pela editora Corrupio e relançado em 2018 pela Fundação Pierre Verger. Alex Baradel explica que “Orixás é uma obra-chave. Até hoje, a obra de Verger constitui-se em uma inigualável fonte de informações sobre os cultos afro-brasileiros e revela elementos sobre as suas raízes africanas. O livro traz os conhecimentos do Fatumbi que, nesse contexto religioso, sabia o que fotografar, como fotografar e como apresentar, ou não, as imagens produzidas. Traz também a poesia e a criatividade plástica do Pierre Verger, um autodidata que rejeitou o modo de vida no qual ele foi educado, para ir ao encontro de outras formas de viver e de pensar, nos cincos continentes, associando viagem, encontro e fotografia, criando assim uma obra visual singular que ainda está sendo descoberta. Essa exposição e a fotografia do Fatumbi, de forma mais geral, vivem nesse lugar onde a imagem flutua entre o informativo e o poético, oferecendo, além da descoberta de uma religião e das suas raízes, uma viagem a um mundo onírico”.
A exposição está dividida em nove blocos, intitulados como Terra Mãe, Deuses Africanos, Babalaô, Xangô, Yemanjá, Lugares de Culto, Cerimônias, Transe e Iniciação. Essas temáticas mostram ao público fragmentos das pesquisas realizadas por Verger, focadas especificamente no candomblé Nagô-Ketu, forma de culto que tem a sua origem nos países do Golfo do Benim. Entre os anos de 1948 a 1978, ele realizou inúmeras viagens entre a Bahia e essa região, tornando-se um importante mensageiro entre esses dois mundos, tornando-se um dos primeiros autores a destacar as influências culturais e religiosas recíprocas, tanto a das tradições africanas na Bahia, notadamente através do candomblé, quanto as da Bahia na África, por meio do retorno de brasileiros afrodescendentes, livres da escravização que, ao regressarem à sua terra, levaram consigo conhecimentos em diversas áreas.
No bloco Deuses Africanos são mostradas fotografias relacionadas a cada Orixá e seus cultos (na África e no Brasil). Nessa sala, o público tem o suporte da tecnologia para acessar um conteúdo extra sobre cada Orixá em destaque. Através do aplicativo de leitura de QR Code, pode ser ouvida uma narração sobre a imagem, assim como mais fotografias são disponibilizadas para visualização no aparelho celular.
Outras salas mereceram um destaque nas suas montagens. Uma delas é a que faz referência a um dos Orixás mais populares na Bahia e no Brasil: Xangô, o Deus do Fogo e da Justiça. Nessa parte, as paredes ganharam a cor vermelha. Xangô é, também o Orixá que Verger venerava, mesmo sendo filho de Oxaguiã.
Já a sala Iniciação recebeu uma ambientação especial para mostrar a importância das cenas que as fotografias revelam. Coberta por palha da costa, a sala possibilita uma experiência mais sensorial, que remete ao segredo de um dos ritos mais secretos do candomblé. Para o público acessá-la precisa transpassar por essa cortina de palha da costa.