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Digitalização dos negativos

A digitalização dos negativos foi a fase central e mais importante do projeto. Com duração de quatro anos, tratou-se da criação de uma cópia digital bruta de todos os negativos presentes no acervo da Fundação Pierre Verger.

Histórico

O projeto foi iniciado em maio de 2011, com a contratação e formação de um técnico, a aquisição dos materiais necessários e a reforma do departamento de fotografia da Fundação Pierre Verger. Para tanto, a fotógrafa Fernanda Sanjuan, formada pela universidade de Barcelona, foi chamada para o projeto. Após ser contatada, ela viajou para Rio de Janeiro, onde completou sua formação junto ao fotógrafo César Barreto, consultor técnico para esse projeto.


Na fase inicial do trabalho, uma das principais dificuldades foi quanto à definição do aparelho mais adequado para realizar a digitalização dos negativos. Inicialmente, pensou-se em não trabalhar com scanners, pois esse tipo de aparelho está sendo cada vez menos utilizado, trocado por máquinas digitais de alta resolução. Entretanto, por razão de custo e de praticidade, decidiu-se por trabalhar com um scanner Nikkon Coolscan 9000, aparelho que não é mais produzido, apesar de ser de muita boa qualidade, e que permite obter scanners negativos 6*6 em altíssima resolução, o que era necessário para o tipo de trabalho que pretendíamos realizar.
Além desse scanner, dois computadores foram adquiridos, sendo um para a digitalização e outro para o arquivamento dos negativos.

Doravante, sete meses mais tarde, outro scanner e outro computador foram adquiridos e uma segunda pessoa, Tássia Novaes, passou a prestar serviço para a realização da digitalização. A contratação dela se tornou necessária para evitar problemas de saúde para a primeira fotógrafa contratada, pois este trabalho exige muita repetição de movimentos que, em sobrecarga, podem ser danosos ao organismo.
Para facilitar a execução do projeto e poder receber melhor esses dois novos técnicos e equipamentos, a sala de trabalho de manipulação de fotos da Fundação precisou passar por uma reforma de modernização e ampliação.

Descrição do processo de digitalização

Cada técnico realizou, em média, a digitalização de 40 negativos por dia. O trabalho de digitalização foi manual, negativo por negativo, e segui as seguintes etapas:

Separação do negativo do envelope onde estáva conservado. Após o processo de limpeza, feito com um umidificador de ar, coloca-se o negativo numa bandeja concebida especialmente para esse scanner. Depois de alinhar perfeitamente o negativo com a bandeja, evitando-se assim que as imagens fiquem inclinadas, prendia-se ele entre os dois vidros antirreflexo do suporte e, assim, a bandeja é inserida no scanner. Através do software da Nikon, um visual do negativo é obtido e verifica-se então se o foco está corretamente escolhido para a imagem ficar completamente nítida. Desde o inicio, foi decidido desativar todos os parâmetros de automação do software, com o objetivo de não deixar o scanner escolher parâmetros sem a decisão do técnico.

Após essas primeiras etapas, foi gerado um arquivo digital com uma definição muito próxima do negativo original, o qual foi, então, salvo no disco de trabalho. Os arquivos obtidos, em 16 bites, formato RVB e salvos em formato Tiff, têm, em média, 480 MB cada.

Quando uma caixa de negativos (entre 150 e 200 imagens) era digitalizada, o técnico verificava todos, um por um, e criava uma miniatura de cada arquivo. Essas miniaturas permitem uma visualização rápida das imagens digitalizadas.

Estes arquivos e miniaturas são, então, transferidos para o servidor onde o responsável pelo projeto cria outras miniaturas e realiza uma última verificação. Após essa etapa, um tipo de arquivo especial é criado, o qual permitirá a identificação da máquina utilizada por Verger quando tirou a fotografia. Finalmente, os arquivos são copiados num Hd de backup e são, também, inseridos no banco de dados da Fundação, no qual diversas informações sobre os arquivos digitalizados são, então, acrescentadas e acessíveis diretamente pelo computador.

Os arquivos foram salvos em diversos HD de alta capacidades, duplicados, um lote conservado na Fundação Pierre Verger e o segundo em um outro local. Com esta precaução, a Fundação busca assegurar o bom armazenamento e a segurança de suas fotos, pois, caso os negativos e os backups da Fundação sofram algum dano ou se percam, haverá uma outra cópia guardada em outro lugar seguro.

Resultados

As miniaturas obtidas da digitalização permitem também uma melhor visualização das fotografais de Pierre Verger. Não são imagens perfeitas, pois foram criadas automaticamente, mas são de qualidade infinitamente superior às imagens existentes atualmente no banco de dados, as quais foram digitalizadas em baixa resolução no inicio dos anos 2000.


Entretanto, as miniaturas não são arquivos com qualidade suficiente para serem utilizados ou impressos. Nesse caso, é necessário o trabalho de um técnico com grande experiência (externo à Fundação), o qual necessitará realizar um trabalho de interpretação demorado, da mesma forma como, num laboratório analógico antigo, se trabalhava com muita paciência nas diversas zonas de um negativo para obter uma ampliação perfeita.
Uma vez esse trabalho de interpretação realizado, a imagem precisa ainda ser retocada antes de estar pronta para ser utilizada pelos clientes da Fundação.

Com o decorrer dos trabalhos, percebemos, rapidamente, que a digitalização em alta resolução dos negativos de Pierre Verger trouxe muitas informações importantes que não eram esperadas. Parece-nos, por exemplo, que, a partir do estudo das bordas dos negativos, é possível identificar com quais Rolleiflex as fotos foram feitas. Foi necessário, portanto, registrar essas informações para cada imagem e, com as informações assim reunidas, foi possível determinar a época em que os negativos foram tirados, informações que faltavam para certos lugares, especialmente as fotos tiradas no Brasil. Conseguimos, às vezes, pela mesma técnica, perceber erros de classificação de certos negativos, que foram reclassificados nos seus devidos lugares. Estudando as bordas dos negativos, pudemos também entender melhor a forma que Verger utilizava a Rolleifex, usando-a geralmente na frente da barriga, mas também, às vezes, por razões de enquadramento, em cima da sua cabeça.