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Texto curadoria

O Japão de Pierre Verger se inicia com o mar, o návio, a viagem. Esta mesma viagem que foi feita, três décadas anteriores, em sentido inverso, por centenas de japoneses que deixaram sua terra natal e partiram numa embarcação para um outro país, o Brasil. Uma terra que Pierre Verger descobrirá dez anos mais tarde desta sua viagem, e que o acolheu e à qual ele se apegará até seus últimos dias.

Ao realizar sua volta ao mundo em 1934, Pierre Verger, a faz contratado pela revista France-Soir, com a finalidade de acompanhar o jornalista Marc Chadourne. Trata-se de sua primeira experiência como fotógrafo professional encontrando-se, ainda, em início de carreira. Seu olhar ainda é ingênuo, registrando, com sua Roleiflex, temas os mais diversos possíveis. Dessa forma podemos encontrar numerosos temas que, mais tarde, se tornarão grandes clássicos de seu trabalho – viagens, o homem, retratos, as ruas e aqueles que ali se encontram -, além de outros surpreendentes se comparados ao trabalho que desenvolverá posteriormente. Podemos observer seu interesse particular em retratar a mulher, mais especificamente as gueixas, em imagens “clichés” que parecem posadas, fato raro no trabalho do fotógrafo – o que não impede que suas imagens tenham a mesma qualidade estética. Ele fotografa, da mesma maneira, outras mulheres – as prostitutas – dentro de um contexto social bem diferente.

No Japão, Verger, na verdade se interessa por diversas classes sociais, desde a “zona” até àquelas mais abastadas, as quais ele não mais se interessará em registrar. Talvez motivado pela relative proximidade de sua própria vida abastada em Paris.
Entretanto, como é o caso no restante de sua obra,Verger não faz críticas, nem se posiciona, apesar de viver numa época, extremamente ativa politicamente e marcada pela ascensão do comunismo, do fascismo, ou do nacionalismo de diversos países, dentre os quais o Japão. Sua fotografia é apolitical, não faz denúncias nem manifestos, ela apenas humanisa. É interessante notar o distanciamento das fotos de Verger com todo o elemento politico e histórico em contraponto com o livro publicado por Marc Chadourne sobre a mesma viagem realizada, o qual é um verdadeiro manifestode considerações de ordem política. Observando-se as fotos de Verger, e lendo o texto do jornalista – duas pessoas que fizeram juntas a mesma viagem – temos a idéia de viagens completamente distintas.


Verger nos mostra uma sociedade, mas não sua história, nem seu funcionamento. Dessa forma, constata-se que suas fotografias possuam um grande valor para os universitários, historiadores, sociólogos, ou até mesmo antropólogos. Talvez justamente por mostrarem de uma forma relativamente neutra os homens em seu contexto, sem receber qualquer tipo de influência, que sejam de ordem político, artístico ou econômico. Trata-se de um tipo de material bruto, não decodificado, captado pela magia de uma rolleiflex, a magia de um olhar e todo o temperamento e a poesia inerentes ao fotógrafo.
É esta magia que nós tentamos apresentar nesta exposição, a partir de uma centena de imagens selecionadas entre milhares existents sobre o Japão nos arquivos da Fundação Pierre Verger, e que pela primeira vez são apresentadas ao público graças à iniciativa da Caixa Cultural de São Paulo.


*Extrême occident – Marc Chadourne – Plon –Paris - 1935